domingo, 25 de março de 2012

os atalhos do ouro que há nos pilares da madrugada





















Eu que nunca morri,
eu que nunca nasci, eu que nunca, jamais
Eu que sempre amo mais que odeio,
eu que me derreto por todas vocês
Meu valor cabe numa uva,
numa pepita de areia,
em tua cratera querida

Só olhando o olhar de quem some no vento,
nas nuvens de rosadas,
nas camadas nossas

Se estive aqui estaria mais feliz

é sexo
é alma,
é tanta coisa e coisa nenhuma

Não sou de dormir de madrugada,
adoro os atalhos do ouro que há nos pilares da madrugada,
o rock que há nela.
o tesão,
a nudez da manhã que nasce na gente

( edu planchêz )

nas cavidades da luz e do intenso breu


No vale dos morcegos dourados mora ela e eu, ela e suas pernas-flores-de-cerejeiras, seus olhos "paixão de joana d'ark", artaud e meus dez glifos encantados. Tomava uma porção de ninfas, uma porção de cavalos marinhos, uma porção de aves do paraíso...

Sentado numa raiz, numa pedra enorme, no meio da montanha, no meio de nós, no meio de todos. Morria de rir, nascia de rir, nos grãos da neve, nas bolotas do carvalho, no mirante coberto de estrelas alucinadas

Era e é a música dos dedos e da boca, o reino de tudo, a casa de meus avós, o berço em que dormira em minha primeira noite terrena, os seios de minha mãe repletos de leite, meu pai rapaz sentado à mesa fazendo sua merecida refeição

O ser e o não ser embutido numa mesma bola de gude, o papel de seda repartido em tiras, o fogo no céu das crianças que amam o céu e os pequeninos caramujos do nosso simples jardim

Venço os dias e as noites, venço o que devo vencer, eu não caibo em mim, mas caibo nos pulmões do mar, nas sacas repletas de frutas, nos portos e aeroportos, nas cavidades da luz e do intenso breu

( edu planchêz )

sábado, 24 de março de 2012

entre os maciços e as construções

Estranho pôr de sol no meio da madrugada,
coisa de cinema, coisa da mente,
das velozes paletas do ventilador
que nunca dorme diante da grande onda de calor
que se espicha sobre os telhados do Rio de Janeiro,
sobre o coração da gente,
sobre as ventarolas dos meninos do futuro,
sou um desses meninos, uma das asas da águia
que no meio da madrugada arrasta
com o bico e as patas os estilhaços
do sol pelo meio da sala das luzes comedidas

E ver o sol, e ver a águia, trás um novo alento,
um algo mais que perfumado
que não possui rosto nem nome

Eis o mistério caminhando
a passos pequenos por dentro
da jarra das flores
de minha serena existência,
um homem de nada eu sou,
uma coisa diminuta,
um abalo cisnico
nessa sala que também é quarto,
nessa Jacarepaguá de meu umbigo,
nessa cidade de cinemas naturais

Tenho que falar do mar
porque sei que ele está bem perto,
há alguns centímetro
á espera do dia ainda nevoento
se abrir feito cartas
sobre a mesa de meus sonhos em estado de embrião
de fruta verde atada aos véus da árvore

Andei triste,
hoje ando bem marcado pela rosa dos ventos,
pela força girante do absoluto moinho
que leva e trás os atores da contagiante comédia
que se desenrola
entre os maciços e as construções

( edu planchêz )

segunda-feira, 19 de março de 2012

lamacentos cabelos



"O poeta aponta a lua,
o imbecil olha o dedo"

Podem me chamar de degradado, resto de fogueira, fuligem, carvão molhado,digam para o mundo que eu me entorpeci de pedaços de lua e vivo pelas praias saudando o moleque saci e as enguias das profundezas plasmáticas. De resto, cato conchinhas e reviro as areias em busca de sonoros caracóis. Mais na frente, largo a lança e o martelo, mais na frente, prego meus ossos nas telhas do céu, mais na frente, jogo o jogo das sereias que habitam os náufragos e seus arrecifes-navios. Qual planta coral, que animal plantou-se em meus lamacentos cabelos e disse para os voadores discos os não segredos?

( edu planchêz)

demônio da transformação cravado em meu peito














um mundo onde as pessoas já não se olham nos olhos,

vão para seus empregos apenas para ganhar dinheiro,
os professores finge que ensinam
e os alunos fingem que aprendem, bebem por beber,
vivem por viver, morrem por morrer,
qual o sentido dessa civilização continuar existindo?

não seria melhor explodir ou implodir tudo e todos?

parece não haver mais lugar para mim,
eu sou da "antiga", ainda olho para o céu, amo,
tenho ideologias, sonhos, cultuo os ancestrais,
respeito a terra, o chão...

os de hoje dançam por dançar,
andam de esqueite por andar,
trepam por trepar, andam por andar

houve uma lobotomia coletiva?
jovens velhos, velhos jovens, adultos putrefatos,
quase todos putrefatos em plena era da comunicação

eu não quero a modernidade, eu não te quero,
eu não quero a nojenta música bate-estaca,
quero o pensamento, a reflexão,
o ser integral, as páginas do livro revolucionário,
o cinema inventivo, a arte nada sacra,
o demônio da transformação cravado em meu peito

( edu planchêz )

cavalos espetaculares














Matilhas de lobos metálicos
pisoteiam a parte sul dos miolos do pão
que guardo na mente,
você mastiga esse pão
com vossos dentes de cadela

Nada de ética durante o coito do que penso,
nada durante o nada,
mesmo durante a passagem dos cavalos espetaculares
da minha Dinamarca,
da chegada da linda Ofélia montada num deles

( edu planchêz )

sábado, 17 de março de 2012

nas células vermelhas de nossas veias





















manhã, sábado, fome,
zé ramalho, "a peleja do diabo com o dono céu"...
transmutações imediatas,
cartas de belezas
deixadas nas camadas quentes da nossa humanidade

eu torcendo por você, você torcendo por mim,
nossas vistas marejadas de tanto ver, de tanto saber,
de captar da brisa marinha minha vizinha
a cantoria do peixes e das algas

hoje num sonho noturno, estive com meu irmão Glad Azevedo
numa terra que não conhecia, lembro das moças bonitas,
do barro e dos seres das águas, acho que camarões pitus...
não me recordo do sonho completo,
só lembro de haver nas imagens oníricas muitas pessoas amigas,
vento, calor, e coisas que estão além da minha atual compreensão

continuarei sonhando, realizando, cavando cada vez mais,
nasci para tal oficio,
para superar as dores e as altas ondas cordilheiras

não estou nesse mundo só para observar,
intervenho sempre,
deixo minhas marcas nas paredes das cavernas,
nas páginas das pessoas,
nos lençóis de ar, no céu e no coração prateado da terra

caminho pela história, pelo milênio,
pelo século, pelo além do tempo, nas três dimensões,
nas muitas dimensões do intocável

posso tocar o face de cada ser com minhas mãos,
com minhas mãos palavras,
com o poder da consciência do aqui estar,
na voz das vozes, na tua voz, nos olhos teus,
nas células vermelhas de nossas veias

(edu planchêz)


sexta-feira, 16 de março de 2012

América Pindorama II
















fomos pelas escarpas do morro do corcovado
acomodados dentro do trem vermelho
gemendo os poemas que as cascatas ocultas emanavam
pelas bocas beiçudas dos macacos pregos;
e chovia chuva mesmo, e ventava vento mesmo,
roça branca, rocío rosê, tábuas de sol,
pancadas de palavras perdidas e encontradas

nas rodas do veículo, nos cascos de nossos pés,
nas palhetas partidas da caminhada rumo ao cume,
ao colo do totem, da estátua, do avatar de ninguém:
apenas para gemer poemas subimos aquela montanha famosa,
naquele fim de tarde cor de batata frita com bife

( edu planchêz )

sentado no "morro dos ventos uivantes"










a chuva corre louca lúcida
pelas calhas dos que sabem
e não sabem que a chuva que escorre hoje
é a mesma que escorreu na infância do planeta,
na infância de tudo que conhecemos e não conhecemos,
é a chuva...

seria eu a chuva? seria você?
ou, o ou que nunca vou conseguir transmitir

morro aqui mesmo, morro em tua frente,
na frente de ninguém, não morro,
e se na morte sendo raio elétrico risco os céus,
melhor morrer?

sentado dentro da ferida comum a todos,
no sangue único meu e teu,
sentado nos cavaletes do ser,
nas trombas d'água da primeira e da última esperança,
sentado no "morro dos ventos uivantes"

( edu planchêz )

quinta-feira, 15 de março de 2012

América Pindorama


"A pele do tigre com suas nítidas riscas negras
ressaltando sobre o fundo amarelo
forma um padrão que se reconhece à distância(...)"

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Alto do morro do Corcovado, atrás de um totem,
de uma escultura que representa a religião oficial do estado...
movo-me com meus amigos também poetas pelas listras do arco-íris
que une as quatro pontas do mar que presenciou os muitos combates
que fizeram dessa cidade um redemoinho de histórias sangrentas,
de saborosos amores forjados pelos muitos carnavais,
flechas incendiárias, rajadas de balas e outras rajadas

Montado num totem,
num corpo delicioso de uma mulher aparentemente grega,
montado na voz do morro, na voz que ouço agora
nessa semana carioca de poesia,
nessa noite de muitos ventiladores ligados
porque março sempre é um mês de muito calor
aqui nesse lugar protegido pelos golfinhos
da sempre Guanabara

Volto ao meu copo de chá de espinheira santa,
volto a onda salgada que esteve em mim
durante o raiar do quadrante do céu poderoso
sobre os confins de meu eu que assume quando quero
a forma de uma onça símbolo da magia para os povos indígenas
daqui dessa América Pindorama

Vivendo numa gaivota,
vivendo nas pedras trazidas pelos relâmpagos,
vivendo no útero da brisa da mulher de olhos lilazes,
vivendo onde o pensamento faz a curva
e as baleias parem o novo e o velho mundo

A Terra do sempre,
avisto do mastro do galeão ancorado na ponta submersa
no maciço onde se formam todos os continentes
e crescem as plantas aquáticas
que servem de seios para os peixes
se amamentarem durante o fim e o começo do mundo

( edu planchêz)


sexta-feira, 9 de março de 2012

da caatinga teatral do lagarto e do escorpião prateado



As meninas de Aldebarã cá estão,
nuas,
banham-se na mesma água de estrelas,
na mesma fonte que o poeta visionário da Paraíba esteve

não quantas Terras cabem em meu coração
nessa partícula madrugada,
nessas falas do irmão pensamento Sócrates

O grande incêndio cobre a a vasta planície,
o clarão dourado chega cá em nós que folheamos
as páginas dos grandes livros,
chega nos pêlos de nossos sexos flores sempre abertas,
nos botões do profeta que grita o grito da estiagem,
da caatinga teatral do lagarto e do escorpião prateado

(edu planchêz)

as portas dos palcos















As portas dos palcos,
dos grandes palcos serão em breve reabertas,
eu e meu supra sentimento destrancaremos
com chaves de ouro e diamantes os canais que nos levam às multidões,
porque nossas canções poemas nasceram para os muitos,
para os múltiplos povos nações,
para as celebrações clamorosas,
para opulência que o talento atrai

( edu planchêz)

Evlyn Roe saiu das páginas de Bertolt Brecht













Evlyn Roe
saiu das páginas de Bertolt Brecht
e assumiu o comando da nave
que ora construo
não sabe se nos conduz a terra santa
ou magma das entranhas,
pouco importa,
desejo mesmo que ande nua sobre o as tábuas do meu peito

Evlyn Roe
desconhece os calendários,
os quadrantes das ruas e os nós do mar,
é possível que partamos para o Ártico,
acenderemos nossas fogueiras
em meio as eternas geleiras

Evlyn Roe
nunca será uma alma penada,
um egum...
enquanto o capitão dessa embarcação for eu
e os ventos dos fraternos mestres

Evlyn Roe
penava pelos campos do nada rejeitada
pelos extremos da dualidade,
mas quis o gênio que em mim escreve,
romper os liâmes das lendas
e fazê-la uma Dama de Ouro

( edu planchêz)















há mulheres q me dizem : "só você tem a minha chave"
sem arrogância, sou Osho, Sartre, Pagú, Leila Diniz...
o mar e o céu, os vulcões, e a tempestade...
eu fui a todas ou as muitas escolas
dos ensinamentos do extremo amar
do tantra, ao xamã...
acredita?
estou nesse mundo, mas sou mais daqui
Nunca pensei que chegaria nesse ponto,
nem imaginava o que seria esse estar

(edu planchêz)